Por favor relevem as palavras que brotam desesperadas de
alguém que está com dores há dias e hoje, para maior desespero, só consegue
enxergar o mundo sem duplas imagens quando força a fechar um olho.
Tenho tido dores de cabeça que me acompanham há mais de
quinze dias.
Acordei, passei os dias e fui para a cama com dores. Um tormento. Isso acaba com
o bom humor de qualquer ser. Comprimidos não adiantaram. A visão começou a
ficar embaralhada e os óculos insuficentes.
Hoje acordei com a visão turva, dupla. Para manter o foco,
só mesmo fechando meu olho direito que, até alguns anos atrás e desde a minha
infância, tinha mais de quatro graus de astigmatismo.
Nunca senti necessidade
de usar os óculos e, por mais grossas que pudessem ser as lentes, minha visão nunca
ficaria plena. Pensei em operar, mas depois de cálculos e mais cálculos de três
médicos, concluímos que fosse melhor viver assim. Melhoraríamos uma coisa, pioraríamos outra
(tenho astigmatismo E hipermetropia!) e eu nunca me livraria da necessidade de
ter que usar os óculos... Então... Fica do jeito que está.
O tempo foi passando e a necessidade de óculos para leitura
chegou. E eu, que tinha o olho esquerdo
com visão perfeita, já não podia mais comemorar por isso... Até aí tudo bem. O
tempo passa pra todo mundo e o corpo reclama. Normal.
Só que hoje bateu o desespero. Não poder focar em nada, como
se meus olhos não falassem a mesma língua e meu cérebro não montasse bem as
imagens que atravessam minhas retinas me assustou. Corri para um pronto socorro
de um hospital oftalmológico, mas ouvi um “Não podemos fazer nada hoje, não
podemos fazer exames nem para saber seu grau. Essa duplicidade de imagens que
vê pode ser causa de muitas coisas. Recomendo que marque uma consulta para averiguar
e pedir exames!”
Meu Deus!!! Mas o que foi que fui fazer lá???
Pagar por uma
consulta para ver se consigo reembolso do convênio depois??? Fui dar uma volta
pela região da Avenida Paulista e ter que desviar de caminhos por causa da
Parada Gay?
Chovia para ajudar...O vidro do carro cheio de gotas me incomodava ainda
mais. Faróis que duplicavam, lanternas multiplicadas, sensação horrível de quem
não está conseguindo enxergar direito.
Senti satisfação em ter o Alvaro guiando pra mim. Imaginei o
pesadelo que seria dirigir nessas condições. Ao pararmos num farol, virei-me
para ele para sorrir em gratidão, mas
ele me imitou fechando um dos olhos e não consegui rir da piada. Senti vontade
de chorar, mas abafei.
Entrei otimista para a consulta e saí de lá desolada.
Para
ouvir da médica que o que eu tenho pode ser uma série de coisas, eu não
precisava ter ido... não mesmo!!! Saí pisando firme, confesso que mal me
despedi e voltei correndo pra casa. Não
dava para pensar em espairecer por aí quando você teve que pedir para a
cuidadora do seu pai te render num domingo à tarde, não é , não?
E voltamos para
a toca.
Pensei na vidinha que venho levando nos últimos dias, nos
últimos meses, nos últimos anos.
Senti que estou fragilizada, cansada. Acendi um cigarro e
pensei no fracasso que esse gesto simboliza pra mim. No mesmo momento, me lembrei que este tem
sido um dos poucos prazeres que ninguém me tira, nem mesmo eu, e sabe-se lá a que preço...
Desabei... Chorei feito criança, aos soluços... Queria poder fazer birra,
beicinho, manha... Queria poder ser a filha única mimada que não fui.
Só queria
mesmo um colo de mãe. Da minha mãe. Aquele que acolhe sem precisar
que a gente diga nada... Aquele abraço e colo em que a gente se aninha e deixa embalar
enquanto os soluços se espaçam, a mente se acalma e as lágrimas escorrem
tranquilas até a gente esquecer, adormecer... e o medo se vai.