sábado, 20 de novembro de 2010

Saindo de fininho...

           Eu não estava para muita conversa, é verdade. Talvez estivesse com poucapaciência, talvez estivesse apenas na minha. Saí da sala na esperança de fugir dos mexericos. Não queria saber sobre o novo casal que namorava, ainda em segredo, da sala ao lado.  Não desejava ouvir sobre a última  compra da agregada que só falava de empregados que teria e de seu imenso apartamento novo.  

         Não, meu mundo era mais do que aquilo para perder minha atenção com
isso.  Não estava querendo rir daquilo. Não naquele dia!  Aquelas visitas tagarelas não eram necessariamente pra mim. 
E, de fininho, eu fugi...
Embora soubesse que deveria deixar o vício brevemente, fui acender o meu cigarro longe dali enquanto olhava a água cair do chafariz solitário perto do heliporto.  Aquele chafariz era quase triste. Perdido num canto  sem grande destaque, ele parecia cantar sozinho. O barulhinho da água era gostoso, mas os espirros das gotas que vinham em minha direção me obrigaram a me afastar.  Um passarinho pousou na grama e por um momento me esqueci do engarrafamento que já se formava na Chucri Zaidan.
Tive vontade de tocar a água, de ficar descalça e molhar os pés naquele laguinho. Tive vontade de ser livre, de poder dançar sozinha,  de reverenciar as primeiras estrelas que apareceriam a qualquer momento. Não poderia! Por mais informal que pudesse ser, aquele ainda era um local de trabalho.
Sorri só de imaginar quantos loucos dali gostariam de me acompanhar.  
Senti pena dos adultos que nos tornamos, das amarras que nos impomos e mais pena ainda tive das minhas amigas que deviam estar lá dentro da nossa sala ouvindo (ainda!), mais fofoca. Agora seria de outra colega entusiasmada em narrar detalhes e gafes da última festinha infantil, do último jantar "da galera".
Apaguei o cigarro que chegara ao fim e voltei para a nossa sala. Para minha alegria, o assunto agora era “receitas de bolo de cenoura”. Muito menos maldoso, muito mais doce! 

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